Além de escrever poesia, Alberto Andrade também passa longas horas no estudo de mitologias, histórias e tradições antigas. É natural de Salvador, Bahia, mas passou parte da infância morando na Chapada Diamantina (provavelmente o motivo do seu amor excessivo pelos rios, serras e montanhas). Nas horas vagas dá catequese e ganha o pão sendo professor de ensino médio e dando aulas particulares. Abaixo, quatro poemas desse jovem poeta. P.s. Lembrando que um * é de uma estrofe para outra; três *** é para a separação entre poemas.
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LAI NA AREIA
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Entre cocos e acarajés a luz desfila,
ondeia
E alisa os cachos da manhã na maré cheia.
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Enquanto o Azul batiza as cores do meu peito
Pequenos sóis penteiam teus cabelos.
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A menina borda o que eu suspeito serem asas
Enquanto a lua veste aquelas praias.
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TECELÃ
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A luz é preguiçosa às quartas-feiras.
Vai me trazendo doces, tecelã.
Menos que sombra, mariposa à tarde
Gozando o que não sabe ser manhã.
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SERRA DAS ALMAS
Para Renato de Oliveira Prata
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A serra é mais antiga que a alvorada.
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Mais antiga que quando a mãe mudou de emprego e
Livramento passou a ser cidade.
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Antes mesmo que o Sebastião Raposo
Descortinasse o Sol nas águas do Brumado
E as vilas viessem pelas contas do rosário;
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Muito antes que o primeiro homem vermelho
Visse Jaci banhando-se no alto e
Ousasse nas palavras o vislumbre de outro reino;
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Ela vira os abismos e as águas
Onde antes de tudo Ele pairava.
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POEMA
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Algumas solidões são brisa em dia quente:
Lembram da sombra, seus quartos, florestas
e águas sorvidas em mistério.
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São o silêncio do lago feérico
Mariposas, viuvinhas e libélulas:
O vento é a solidão de asas abertas.