Paul-Jean Toulet (1867-1920) foi um escritor e poeta francês. Autor de vários romances e contos. Otto Maria Carpeaux, nos Ensaios Reunidos, diz que: “Entre a poesia prosaica [...] e a poesia profunda, a que chamam ‘metafísica’, Toulet está pouco à vontade”. Pois o poeta francês produziu uma poesia “simplesmente poética.” Sem ser, contudo, poèsie pure. Les Contrerimes é a reunião póstuma da sua obra, publicada alguns meses depois que o poeta faleceu. A contenção sentimental e o domínio de ritmo e forma são admiráveis. Parafraseando Mário Faustino, Paul-Jean Toulet é um grande poeta menor. Abaixo, algumas traduções que fiz dos seus poemas. Na Internet é possível encontrar o livro completo, aqui: http://www.florilege.free.fr/toulet/
P.s.
Para não causar confusão: um * é para dividir as estrofes traduzidas; três *** são para separar os poemas.
1
Abril, cujo odor nos augura
Renovado prazer,
Tu descobres no meu querer
A secreta figura.
*
Ah, pagar a murta ao Mirtilo,
A íris à Desdêmona:
Para mim duma rósea anêmona
Se abre o negro pistilo.
***
1
Avril, dont l’odeur nous augure
Le renaissant plaisir,
Tu découvres de mon désir
La secrète figure.
*
Ah, verse le myrte à Myrtil,
L’iris à Desdémone:
Pour moi d’une rose anémone
S’ouvre le noir pistil.
***
2
Na ardente lareira de inverno
Tu, como um rubro nu
Onde já se desenhou nu
O aroma de tua derme;
*
Nem vós, de imagem de utopia
Meu coração cativa,
Ilha velada, sombras vivas,
Noite de Oceania;
*
Não mais teu perfume, flor turva
Sob a mão que te envasa,
É inválida a rosa em brasa
Que ao meio-dia curva.
***
2
Toi qu’empourprait l’âtre d’hiver
Comme une rouge nue
Où déjà te dessinait nue
L’arôme de ta chair;
*
Ni vous, dont l’image ancienne
Captive encor mon cœur,
Île voilée, ombres en fleurs,
Nuit océanienne;
*
Non plus ton parfum, violier
Sous la main qui t’arrose,
Ne valent la brûlante rose
Que midi fait plier.
***
4
Tais rosas por mim destinadas
Pra escolha de tua mão,
Amanhã, ao primeiro clarão,
Elas estarão fanadas.
*
As horas vão caindo implumes
Na bandeja de cobre,
Tine seu cálice, e livre e pobre
Uma alma a seu perfume
*
Ligada, no entanto, ó Desvirtude,
Através de travessuras,
Ouço ressoar, às escuras, o
Fim de minha juventude.
***
4
Ces roses pour moi destinées
Par le choix de sa main,
Aux premiers feux du lendemain,
Elles étaient fanées.
*
Avec les heures, un à un,
Dans la vasque de cuivre,
Leur calice tinte et délivre
Une âme à leur parfum
*
Liée, entre tant, ô Ménesse,
Qu’à travers vos ébats,
J’écoute résonner tout bas
Le glas de ma jeunesse.
***
5
No leito vasto e desvastado,
Abro os olhos perto dela;
Roço-a: um sonho infiel vela
Beijando-a ao meu lado.
*
Uma luz cortante e mordente
Recorta o meu aposento,
Longínquo, sob o pavimento
Escuto um balde estridente.
***
5
Dans le lit vaste et dévasté
J’ouvre les yeux près d’elle;
Je l’effleure: un songe infidèle
L’embrasse à mon côté.
*
Une lueur tranchante et mince
Échancre mon plafond,
Très loin, sur le pavé profond,
J’entends un seau qui grince...